sexta-feira, 29 de junho de 2012

PASSADO

PASSADO

O passado é, por definição, um dado que coisa alguma pode modificar. Mas o conhecimento do passado é coisa em progresso, que ininterruptamente se transforma e se aperfeiçoa. A quem duvide basta lembrar o que tem ocorrido há mais de um século para cá. Imenso lanços de humanidade saíram das brumas . O Egito e a Caldéia sacudiram suas mortalhas. As cidades mortas da Ásia Central revelaram suas línguas, que já ninguém falava, e suas religiões, há tanto extintas.
Uma civilização inteiramente ignorada acaba de erguer-se do túmulo, nas margens do Indo.E não é tudo; o talento dos investigadores a esquadrilhar as bibliotécas , a abrir novas trincheiras nos velhos solos não é o único, nem talvez o mais eficaz a enriquecer a imagem dos tempos idos.
Surgiram também processos de investigação até aqui desconhecidos. Sabemos melhor do que nossos predecessores interrogar as línguas  acerca dos costumes, a ferramenta a respeito dos operários. Aprendemos sobretudo a penetrar mais fundo na análise dos fatos sociais. O estudo das crenças e dos ritos populares esboça as suas primeiras perspectivas. A história da economia, de que, outrora, Cournot, quando enumerava os diversos aspectos da investigação histórica, não tinha a menor ideia, mal começa as constituir-se. Tudo isso é certo. Tudo isto nos permite as maiores esperanças. Não esperanças ilimitadas. Aquele sentimento de progressão verdadeiramente indefinida que se colhe de uma ciência como a Química, capaz de criar até o seu próprio objeto, não o temos nós. Porque os exploradores do passado não são homens absolutamente livres. É seu tirano o passado, que só lhes consente saberem de si o que ele próprio propositadamente ou não, lhes confiou.

Introdução à História - Marc Bloch







terça-feira, 19 de junho de 2012

INDEPENDÊNCIA OU MORTE!

Processo da independência 1789-1822
Podemos dizer que processo é mudança de alguma coisa numa determinada direção. Nós nos transformamos, basta observar nosso retratos nas antigas cadernetas escolares. A sociedade em que vivemos também se transforma, isto é, também tem seu processo.
É por meio do registro humano, na forma de um objeto ou na de uma pintura ou de um texto que se constrói ( ou reconstrói) a história. Ela é a leitura e a narração que o historiador faz do passado, com a análise de uma série de referências que compõem o todo.
A independência do Brasil e das demais colônias européias na América também foi uma transformação, que apresentou várias etapas: os movimentos precursores, a autonomia e finalmente, a separação total de suas metrópoles. Ao conjunto dessas três etapas damos o nome de Processo da Independência.
Este processo de Independência no Brasil se manisfesta em 1789 com a Conjuração Mineira estendendo-se até 1831 ano da abdicação de Dom Pedro I.


A data de 7 de setembro de 1822 - o grito do Ipiranga - é o mais importante momento desse processo.
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 O que se tem atrás das imagens, pintura esta elaborada pelo pintor Pedro Américo

1-A cena representa o nascimento de uma Nação
2-Dom Pedro I aparece montado num cavalo, mas presume-se que viajava numa mula
3-No centro da tela. Dom Pedro I é retratado como protagonista
4-A margem um homem em roupas rasgadas é um mero espectador( um mero camponês )
5-O pintor Pedro Américo não presenciou a cena ocorrida, que foi elaborada em 1888, 66 anos depois do ocorrido.
6-ao lado de Dom Pedro I os ecravocratas que o apoiavam
7-Também vemos o exército que garantia os interesses da elite

Por que da independência ( acho que o diabo estava solto )
No final do século XVIII muitos dos habitantes do Brasil não estavam satisfeitos com o governo português, achando que chegara a hora da independência, como já acontecera com as treze colônias inglesas da América do Norte.
Por toda a parte existia uma infinidade de impostos, monopólios e proibições. Havia impostos sobre exportações do açúcar, do algodão e do couro, sobre a extração do pau-brasil e das drogas do sertão, sobre a exploração do ouro e dos diamantes. Os tecidos que vinham da Inglaterra também pagavam impostos elevadissimos. E ainda existiam impostos completamente absurdos, como o " subsídio voluntário " criado em 1756 para auxiliar a reconstrução de Lisboa, destruída por um terremoto no ano anterior, mas que continuava a ser cobrado em 1790.
Ao lado de tantos e tão elevados impostos, existiam os monopólios. A pesca da baleia e a exploração do pau-brasil e do sal e do salitre, só podiam ser feitas por pessoas que obtinham uma licença especial do rei.
Como se ainda não bastasse, tantos impostos e monopólios, ainda existiam ordens do rei proibindo a fabricação de tecidos e objetos de metal.
De fato era muito difícil viver no Brasil naquela época, e por isso o poeta Gregório de Matos já dizia, no século XVIII, que:
os brasileiros são bêstas
e estão sempre a trabalhar
toda a vida por manterem
maganos ( pessoas  travêssas ) de Portugal.
Se quisessem viajar de uma capitania para outra, enfrentavam as maiores dificuldades, por que não existia uma única estrada. No percursos de São Paulo a Mato Grosso gastava-se mais de cinco meses , mesmo tempo gasto para vir de Lisboa ao Rio de Janeiro. Os únicos caminhos que existiam eram trilhas abertas pelos índios, os caminhos de gado e os próprios rios.
Na própria capital da colonia, a cidade do Rio de Janeiro, a vida não era agradável. As casas desconfortáveis, as ruas eram estreitas, escuras e sujas. Não havia esgotos, nem água encanada, e o lixo não era removido. A higiene pública era realizada pela águas da chuva, pelos raios de sol e pelos urubus.
Ainda mais o governo português proibia a instalação de imprensa e impedia a entrada de qualquer livros que pudessem criticá-lo.
Apesar de proibidos os livros as ideias liberais circulavam pelo Brasil. O cônego ( padre ) Luís Viera da Silva possuía vários exemplares das " obras francesas " em sua biblioteca e por isso dizia-se em Minas Gerais que " o diabo habitava a livraria ( biblioteca ) do cônego".
Essas ideias foram adotadas por um pequeno grupo de estudantes, militares, padres e escritores que planejaram uma revolta contra o governo absolutistas de Dona Maria I, com a finalidade de realizar a independência da Capitania de Minas Gerais. " Liberdade - ainda que tarde ", foi o lema para a bandeira  dos conjurados mineiros em 1789.

A rápida decadência do ouro, foi seguida de várias medidas decretadas pelos governantes portugueses. como o monopólio do sal, o fechamento das estradas que conduziam ao litoral, para evitar o contrabando do ouro e a proibição da existência de manufaturas no Brasil.
Vejam quantas proibições impostas a colônia, o que ela podia ou não fabricar?
 D. Maria I de Portugal proíbe:
1-a existência de fábricas
2-manufaturas de ouro, prata
3-manufaturas de sedas
4-manufaturas de algodão, linho e lãs

Só poderia fabricar:
1-tecidos de fazenda grossa de algodão..... para vestir escravos.

Puxa vida que loucura, nada podia, tudo era proibido, que difícil a vida na colônia, quanta revolta deveria existir dentro dos moradores das Minas Gerais, quanta angustia, quantos medos, quantas vontades, quantas ideias que chegavam por debaixo dos panos dos acontecimento na Europa e na América.
Estes relatos foram registrados em um diário do qual foi selecionado alguns trechos, escrito em 22 de janeiro de 1822.
Depois da chegada e permanência da família real no Brasil, ficou evidenciado a existência de muitas casas inglesas.
"Fui à terra fazer compras....... Há muitas casas inglêsas, tais como  seleiros ( onde se fabrica ou vende selas) e armazéns, não diferentes do que chamamos da Inglaterra um armazém italiano, de secos e molhados, mas em geral, os ingleses aqui vendiam as suas mercadorias em grosso ( grande quantidade) a retalhistas ( aquele de vendem pequenas quantidades ) nativos ou franceses. Os últimos têm muitas lojas de fazendas, armarinhos modistas ( costureiras ). Quanto a alfaiates, havia mais ingleses do que franceses, mas poucos de uns e outros. Havia padarias de ambas as nações, e abundantes tavernas inglêsas cujas insígnias (emblemas ) com a bandeira  da União da União, leões vermelhos, marinheiros alegres e tabuletas inglêsas, competem com as de Greenwich  ou Depford ( cidades inglesas ).
Os ourives vivem todos numa rua chamada, por causa deles, rua dos Ourives ,
( atual Rua Miguel Couto )
 e suas mercadorias estão expostas em quadros suspensos em cada um do lado da porta ou da janela da loja, a moda de dois séculos passados. A manufatura de suas correntes, cruzes, botões e outros ornamentos, é curiosa e o preço do trabalho, calculado sobre o peso do metal moderado.
As ruas estão, em geral, repletas de mercadorias inglêsas. A cada porta as palavras Superfino de Londres saltam aos olhos: algodão estampado, panos largos, louça de barro, mas, acima de tudo, ferragens de Birmingham ( cidade industrial da Inglaterra ), podem-se obter um pouco mais caro do que em nossa terra nas lojas do Brasil, além de sêdas, crepes e outros artigos da China. Mas qualquer coisa comprada a retalho  ( em pequena quantidade ) numa loja inglêsas ou francesa é, geralmente falando, muito caro.
A visível apatia ( indiferença ) dos caixeiros brasileiros. Se estão empenhados, como atualmente nao é raro, em falar de políticos ou a ler jornais, ou simplesmente a gozar fresco nos fundos da loja, prefeririam dizer, na maior parte das vêzes, que não têm a mercadoria pedida a se levantar para procurá-la. E se o freguês insistir e apontá-la na loja, é friamente convidado a apnhá-la êle próprio e deixar o dinheiro. Isto aconteceu várias vêzes enquanto procurávamos algumas ferramentas em nosso percurso ao longo da rua Direita ( atual rua Primeiro de Março), onde em cada duas casas há uma loja de ferragens com fornecimentos de Sheffield e Birmingham"

Sintetizando:
Na segunda metade do século XVIII, as novas ideias surgidas na Europa e a notícia da independência das Treze Colônias foram conhecidas na América através de estudantes, comerciantes e lojas maçônicas. Nesta mesma época, iniciaram-se na América os movimentos precursores da independência. No Brasil, esses movimentos são chamados de Conjurações.
Não cumprindo o Bloqueio Continental e tendo o seu território invadido pelas tropas de Napoleão I, o Príncipe Regente Dom João e a família real portuguesa transferiram-se para o Brasil, em 1807. A abertura dos portos brasileiros ( 28-1-1808 ) favoreceu principalmente, os comerciantes dos EUA e da Inglaterra.Essa obteve maiores vantagens com a assinatura dos Tratados de 1810.
Após a subida de José Bonaparte, apoiado por Napoleão I, ao trono da Espanha, ela não conseguiu manter o controle sobre as colonias americanas. Disto se aproveitaram os criollos para assumir o poder, organizando cabildos e juntas governativas autônomas que, todavia procuravam manter as leis a Fernando VII.
a permanência da corte portuguesa provocou a ampliação do território brasileiro e muitas transformações políticas e culturais na sociedade colonial. Estas transformações influenciaram bastante no processo da independência do Brasil.
No Congresso de Viena, os adversários da Revolução Francesa e de Napoleão I tomaram decisões para evitar a expansão do Liberalismo. Uma destas decisões foi a de propor que o Brasil fosse elevado a categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. Outra foi a de lutar na Europa e na América contra as ideias republicanas, que, no Brasil provocaram a Revolução Pernambucana de 1817.
Apesar da Santa Aliança apoiar as tentativas de Fernando VII de impedir a independência da América Espanhola, ela se libertou quase totalmente da metrópole, entre 1816 e 1824. Para isto muito contribuíram o enfraquecimento ainda maior da Espanha e a ação decisiva de Itúrbide, Bolívar e San Martin.
A volta de Dom João VI a Portugal, forçada pela Revolução  do Porto ( 1820 ), e as medidas tomadas pelas côrtes de Lisboa para tirar  a autoridade do Príncipe Regente Dom Pedro, levaram as forças políticas brasileiras a hostilizar aquelas côrtes e a proclamar a independência, já praticamente alcançada no " dia do Fico ".
O ato do Ipiranga foi um complemento de um processo iniciado em 1789, continuado em 1808, com a abertura dos portos. Este processo somente se completaria, entretanto , em 1831, com a abdicação de Dom Pedro I.






Romance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência
Cecília Meireles




Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
uns sugerem, uns recusam,
uns ouvem, uns aconselham.
Se a derrama for lançada,
há levante, com certeza.
Corre-se por essas ruas?
Corta-se alguma cabeça?
Do cimo de alguma escada,
profere-se alguma arenga?
Que bandeira se desdobra?
Com que figura ou legenda?
Coisas da Maçonaria,
do Paganismo ou da Igreja?
A Santíssima Trindade?
Um gênio a quebrar algemas?


Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem,
acontece a Inconfidência.
E diz o Vigário ao Poeta:
"Escreva-me aquela letra
do versinho de Vergílio..."
E dá-lhe o papel e a pena.
E diz o Poeta ao Vigário,
com dramática prudência:
"Tenha meus dedos cortados
antes que tal verso escrevam..."

LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,
ouve-se em redor da mesa.
E a bandeira já está viva,
e sobe, na noite imensa.
E os seus tristes inventores
já são réus — pois se atreveram
a falar em Liberdade
(que ninguém sabe o que seja).