domingo, 28 de março de 2010

A COR DA ÁFRICA E A COPA 2010

A COR DA ÁFRICA ( COPA DO MUNDO 2010)

Me pego perguntando quem é esta África que sediará a copa do mundo em 2010.
Uma África recentemente descolonizada, hoje com 53 países independentes, com uma diversidade étnica cultural, sendo considerado o continente mais pobre de todos, com problemas de subnutrição, analfabetismo.
Um continente com uma gama de línguas, costumes e religiões, trajes, conhecido como o continente de injustiças, escolhido para sediar a copa mundial de 2010.


É com este olhar que me pergunto? QUEM FOI ESTA ÁFRICA DE ONTEM, QUEM É ESTA ÁFRICA DE HOJE?

Foi difícil deixar de mamar nas tetas da vaca preta pela sociedade européia
De explorar, tirar  de sua gente aquilo que tinham de mais singelo: a sua vida, suas aspirações, seus interesses, sua história, sua língua, sua cultura, suas leis, seus ideais nacionais, sua soberania.
Como foi essa aproximação entre o continente africano e o continente americano?
Como se deu essa relação?

Começou assim:

No momento da chegada dos europeus à costa africana, a África estava dividida em inúmeros reinos ao norte e ao sul, e entre esses reinos existiam centenas de cidades-Estado e inúmeros grupos étnicos divididos em tribos.
Muitos reinos africanos como Songai, Kongo e Etiópia, encontravam-se em declínio político, econômico e social, enquanto outros estavam se formando e se fortalecendo.
Para alguns povos da África a sobrevivência era garantida pela guerra, que objetiva principalmente a obtenção de escravos. Assim o comércio de escravos já era praticado em algumas regiões da África -particularmente na costa oeste, banhada pelo Oceano Atlântico.
Na África, existiam diferentes formas de escravidão. Havia o escravo braçal, que era usado principalmente na agricultura. Havia o "escravo servil", que produzia alimentos para si e para seu senhor, trabalhando nas terras deste. Existia também uma espécie de escravo meeiro, que fornecia uma renda em produto ao senhor das terras
Até a chegada dos europeus, as guerras na África para obter novos escravos eram apenas para repor a escravaria  perdida por velhice, doença ou maus-tratos. Com os europeus, a aquisição de escravos tornou-se permanente, pois era necessário abastecer diariamente o mercado de escravos.
A efiência e a rapidez com que as guerras passaram a ser realizadas multiplicou o número de escravos disponíveis no mercado escravista. Como resultado, o preço do escravo diminuiu, dando aos europeus um controle ainda maior sobre o comércio escravista. Milhões de negros escravizados foram obrigados, então, a deixar a África.
O interesse dos chefes africanos em comercializar com os europeus, portanto, fez a população modificar profundamente a sua forma de lidar com a escravidão.
Compra e venda de escravos
"Mercadores de escravos da costa da Guiné e Cabo Verde, chamados tangosmãos, adquiriam escravos em ataque e expedições alugares remotos, recolhendo tantas ' peças ' quanto possível através da fraude, violência e emboscada. Com a chegada dos navios, os próprios africanos iam às vezes á caça de escravos, um grupo cercando outro " como animais ", e então afirmando que os capturaram em guerras justas e ameaçando abatê-los e comê-los se não fossem comprados "

Perda do Nome
Na hora do embarque para o Brasil, o africano era " batizado " , ou seja perdia seu nome original e passava a ter um nome português ( sem nenhum significado para ele ). Para certos povos africanos isso era ainda mais doloroso, pois, em muitos lugares da África, o nome dado a uma pessoa tem um significado especial. O nome português dado no batismo, devia servir para apagar da memória do africano todo seu passado: sua família, seus amigos, suaq língua e saeu lugar de origem. 
CONRAD, Robert Edgar. Tumbeiros: o tráfico de escravos para o Brasil.

interior de um navio negreiro


Ao desembarcar na América, o africano imediatamente assumia a condição social mais baixa existente na colônia: a de escravo. Pouco importava se na África tivesse sido rei, príncipe, ou agricultor. A outra extremidade social da colônia era ocupada justamente por seus senhores, vindos da Europa ou nascidos na América.
No início do século XVI Portugal era uma das principais potências européias, embora contasse com uma população minúscula - algo em torno de um milhão de pessoas.
Esse contigente precisava ser dividido entre todas as  novas conquistas ultramarinas. Assim para a América veio todo tipo de gente, de degradados até ricos senhores.
Para triunfar nessa terra, quase não se podia contar com o apoio do Estado ou de qualquer companhia comercial. Coube então à família levar adiante o empreendimento colonial.
Para o colono português, a família tinha um significado fundamental. E por família entendia-se aquela formada pelo homem,pela mulher e pelos filhos, devidamente sacramentado pela Igreja por meio do matrimônio e do batismo.
Viver em família garantia ao indivíduo uma condição social digna. Somente nessa condição ele poderia aspirar ao reconhecimento social e nutrir expectativas de progredir, isto, é, de acumular riquezas.
Essa estrutura família - chamada  família patriarcal, foi a mais valorizada, mas com certeza não foi a única nem a mais comum na colônia. Por todo território colonial, existiram muitas outras formas de viver em família.
A casa era a principal expressão da família. Dentre as casas existentes no período colonial a que conquistou maior prestígio foi a do senhor de engenho, a chamada casa-grande.

O ciclo do açúcar
O pau-brasil foi explorado por mais de 300 anos, mas sua permanência como produto principal não durou mais de 40 a 50 anos. Não havendo plantio, esgotou-se depressa.
Era necessário uma produção permanente, estável, sedentária e essa foi encontrada coma lavoura da cana de açúcar. Ela existia desde tempos longínquos na Índia e China e sua introdução na Europa de deveu aos árabes, os mesmos que lhe deram, outrora, a laranja, o limão, o damasco e as pesciairas. A partir do século III o Velho Mundo já importava açúcares, graças ao transbordo das caravanas árabes para os navios de Veneza.
Esta república comercial os reexportava para as demais nações.Portugal na época do Infante dom Henrique iniciou o plantio da cana de açucar nas ilhas atlãnticas ( Madeira, São Tomé ).
O açúcar madeirense independizou a Europa do açúcar oriental. Portugal carecia de dinheiro para desenvolver essa cultura e teve de se suprir em Veneza e Gênova. Os banqueiros genevoses, os Centurionnes, não apenas se associaram ao comércio do açúcar da Madeira, como no futuro, se tornariam donos de engenhos n o Brasil.
Não se sabe ao certo quem e onde se plantou primeiro a cana de açúcar no Brasil. Provalvelmente no norte, devendo-se ao lavrador Pedro Capico: navios franceses aprisionados em 1516 já levavam a bordo mudas de cana.
 Brasil colônia -açúcar
As novas plantações de cana-de açúcar pediam novas " fabricas de açúcar" , pois como diz a expressão popular - " pé no canavial  ponta na moenda".
O açúcar enriquecia os senhores de engenho.
O escritor Antonil comenta que:
"o ser senhor de engenho é título a que muitos
aspiram (desejam), porque traz consigo o ser
servido, obedecido e respeitado de muitos".
Oras quem servia o senhor de engenho , quem derrubava as matas, quem queimava os troncos, quem limpava o terreno, quem vigiava o crescimento das mulas---- oras O ESCRAVO!
Quem evitava que o gado pisasse nos canaviais, que as pragas atacassem as plantações? oras  bolas claro O ESCRAVO!
Quem cortava a cana a golpe de foice e a levava para as moendas? -  oras bolas  claro O ESCRAVO!


O escravo trabalhava nas aberturas de caminhos que ligavam os engenhos aos portos e, por esses caminhos, carregavam as caixas de açúcar, destinadas as exportação. Trabalhavam também na construção de prédios, como a casa grande
 onde moravam o senhor e sua família, a capela, onde a população do engenho assistia à missa, a casa grande tornou-se o centro da vida cultural e social. Comandada de forma absoluta pelo senhor de engenho, ali se realizavam as mais diversas atividades domésticas, as cerimônias religiosas, as festas. Em seu interior conviviam de forma intensa os mais diversos personagens: parentes, trabalhadores livres, filhos ilegítimos, agregados de diversas nagturezas e,,sobretudo, os escravos domésticos
, e a senzala,
 onde os próprios escravos habitavam. Alguns faziam serviços domésticos, como as mães pretas.
A palavra senzala vem do idioma bantu. Um de seus significados é " moradia de gente separada da casa principal" o mais usual, porém , é " povoado" . Em grande parte, foi nas senzalas que os africanos resconstruíram, na América, o seu modo de viver.
Os colonos portugueses costumavam interpretar a cultura africana com um olhar católico. Assim, com frequência, os africanos eram considerados incapazes de estabelecer relações familiares estáveis e duradouras. Muitasdas práticas culturais dos escravos eram consideradas indescentes, extremamente sensuais e libertinas, como a dança lundu.
Com uma visão racista muitos acreditavam que esses comportamentos resultavam do fato de os africanos virem de uma sociedade primitiva. Outros viam nessas atitudes um sinal da denegenração causada pelo escravismo. Desconsiderava-se a cultura africana e tinham como padrão de comportamento a quele ditado pela cultura européia e pelos valores da Igreja Católica e pela família patriarcal.
Para os africanos existiam várias formas de se viver em família. Todas elas fundamentalmente na idéia de parentesco formado a partir de um ancestral comum. Com isso, as famílias eram extensas, fundadas em relações de parentesco estabelecidas em um tempo distante. 
Habitação de negros, obra de Johann Moritz Rugendas, século XIX

Apesar de poder contar com uma família extensa, vários africanos procuraram estabelecer uma união conjugal. Eles tinham vários motivos para isso.
Na África, o casamento era uma instituição valorizada. Significava condições mais favoráveis para conquistas econômicas e mesmo para a criação de filhos.
Na América, a união conjugal entre africanos representava a possibilidade de repartir com um companheiro as dificuldades do dia-a-dia e a falata de liberdade.
Os casados podiam viver separados dos demais cativos, fosse em um cômodo nas senzalas ou mesmo construindo uma pequena moraria nas terras da fazenda.
Longe da vigilância constante do senhor, os casais podiam preparar refeições suplemntares com a pesca e a caça de animais silvestres, armazenar comidas e objetos e fabricar pequenos utensílios. Muitos escravos casados conquistavam ainda o direito de ter uma roça e mesmo de criar animais de pequenos porte, como galinhas e porcos.

Exterior de uma senzala fotografada por Victor Frond em cerca de 1859-1861

O tempero da senzala

"É de se imaginar, então, o espanto com que foram recebidos ospratos saídos das mãos das escravas, com seus temperos desconhecidos, trazidos da terra natal, molhos nunca experimentados, doces e sabores exóticos.
Quando se viram na cozinha das casas-grandes dos engenhos começaram a tirar dos caldeirões toda a sua culinária. Aperfeiçoaram pratos indígenas e portugueses, fizeram do coco e do seu leite, da pimenta malagueta e do aziete-de-dendê verdadeiras pedras de toque do bom paladar do país, inventando a a farofa-de-dendê, assim como a banana frita no mesmo azeite.
Implantaram uma grande variedade de novas receitas de peixes, como moquecas. Misturaram o bacalhau aos seus temperos nativos. Com os miúdos deporco, fizeram o sarapatel. Carnes e legumes variados cozidos juntos resultaram em suculentos cozidos. Com o milho e açúcar fizeram o munguzá."
Romio. Eda. Brasil. 1500/2000 anos de sabor.
Dança lundu- século XIX

Dizia Antonil: no livro Cultura e opulência do Brasil
"Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem êles, não é possível  fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente"
ORAS QUEM ERAM ESSES ESCRAVOS?
A crescente diminuição do número de escravos índios fez com que os colonizadores passassem a se utilizar  da escravidão negra, iniciou-se assim a vinda de grande número de negros para o Brasil. É o que denominamos tráfico negreiro.
Os comerciantes negreiros chegavam à África e carregavam os seus navios de negros, em troca de aguardente ou de fumo. Levando uma carga maior do que a capacidade do navio, os traficantes obtinham grandes lucros. A viagem até a América era feita em péssimas condições. Ao atingir o litoral brasileiro, aproximadamente a metade dos negros havia morrido.
Os navios negreiros eram verdadeiras tumbas ( túmulos) e por isso mesmo eram chamados de tumbeiros.
A vida de um escravo negro no Brasil variava entre sete e dez anos.
Muito embora fôssem " as mãos e os pés do senhor de engenho" os escravos nem sempre eram bem tratados sobretudo pelos feitores (capatazes) Comentava Antonil que os escravos dos engenhos costumavam receber apenas três pés: PÃO, PANO E PAU... quer dizer, alimentos, vestimenta e castigo em troca de tão pesadas tarefas.
Portanto o senhor de engenho era o elemento mais importante da sociedade surgidas no Brasil no século XVI. A riqueza do senhor de engenho não era medida pela quantidade de terras que possuía, mas pelo número de homens que tinha sob seu mando, principalmente escravos, no volume de sua produção, na riqueza dos trajes e complementos, inclusive de cativos e de arreios dos animais de montaria, quando se encontravam em espaço público.
Foi também no século XIX que outro hábito mais " sofisticado" começou: comer à mesa utilizando talheres. Escravo ou senhor, a maioria, agachada ou acocorada no chão se alimentava usando só as próprias mãos.
Você sabia que nos engenhos existiam outros trabalhadores alem dos escravos:
Encarregados que nem sempre os escravos realizavam, como a preparação do açúcar.
Feitores
Capelão
Colonos, encarregados da plantação das roças dos legumes que serviam para a alimentação dos habitantes dos engenhos
Tinham os que cuidavam do gado
Os carpinteiros
Os sapateiros
Outros que defendiam a casa-grande, sempre que ocorriam ataques indígenas.
Esses trabalhadores eram geralmente mulatos ou brancos e, com o seu trabalho, permitiam que os engenhos se tornassem auto-suficientes
A maior parte da população no século XVI vivia no campo.
Nas cidades e vilas ficavam as autoridades governamentais e religiosas

Nestas cidades e vilas os senhores mandavam construir casas, onde costumavam ficar sempre que havia alguma festa religiosa ou reunião da câmara municipal. Aproveitavam, então para discutir o preço do açúcar, a venda do gado, o casamento dos filhos, a compra de novas terras.

Hoje como vemos a África, com novas feições de antigos problemas


Em um primeiro momento o continente africano era governado pelas próprias sociedades africanas, por meio de reis, imperadores ou conselhos de anciãos. Com a chegada dos europeus ao continente e com o incremento do comércio de escravos, no século XVIII, teve início um processo irresistível de mudanças.
E hoje, que problemas enfrentam os povos da África Subsaariana

Africa Subsaariana


Elevadas taxas de analfabetismo e mortalidade infantil, endividamento externo, expectativa de vida em torno de 50 anos, a maior concentração de vítimas da aids no mundo, este é o quadro social e econômico da África do Subsaariana, nome pelo qual é conhecido o conjunto de países africanos localizados ao sul do Deserto do Saara.
A raiz do colapso africano é a falência dos Estado, a fragilidade de um poder político incapaz de garantir um sistema eficiente e regular de abastecimento, transporte, saúde e ducação.
Os Estados africanos atuais, por sua vez foram criados pelas potências européias, que desde o século XV exploravam a costa africana em busca de riquesas e de escravos e que, no século XIX e no XX, traçaram as fronteiras políticas do continente.
Esses conflitos classificados genericamente de étnicos e que eclodem periodicamente em países da África Subsaariana, têm como tônica o envolvimento de povos vizinhos cujas características são mais ou menos diferentes. Alguns desses conflitos são esporádicos e duram alguns dias ou semanas, como tem acontecido na Nigéria. Outros, como na região da África Oriental ( Planalto dos Grandes Lagos ), no Sudão, na Somália, no Congo, mas também na África Ocidental ( Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim ), são bem mais graves e persistentes podendo dudrar vários anos e têm sido responsáveis por milhões de vítimas.
Na maior parte dos casos, os conflitos são internos, entre populações mais ou menos próximas, muitas vezes misturadas.
Refugiados de Ruanda



Um comentário:

Júlia Fagundes disse...

Mas essa história está faltando um pedaço!
Faltou dizer da riqueza cultural que os africanos trouxeram para o Brasil, por exemplo.
É importante saber das injustiças cometidas contra esse povo, mas também é importante salientar a importância que eles tiveram e têm na nossa história.
Tem coisa bonita para contar.
Tem samba, candomblé, medicina, arquitetura, agricultura tropical.
Conhecimentos trazidos por eles para nossa cultura mestiça.
Deixo a dica do documentário Atlântico negro: na rota dos orixás que vocês podem encontrar no you tube.