Há somente uma história do mundo, vista umas vezes do Mediterrâneo ou da Europa,outras, a partir da Ásia, outras, ainda a partir dos complexos territórios e das ágeis ligações do Islame.... Elas restituem a história geral e aos nossos resumos monocromáticos as cores fundamentais em que se decompõe a vida dos homens, dos povos e das civilizações.
Isto continua ainda a ser verdade, mas afirma-se com mais evidência outrora, quando a humanidade, sobre a imensa superfície do globo estava literalmente perdida, como que relegada em vários planetas independententes.
Ora , esses planetas aproximaram-se, soldados uns dos outros, após as viagens inovadoras de Cristovão Colombo, de Vasco da Gama, de Magalhães e del Cano.
O COMÉRCIO DO OCEANO ÍNDICO A CHEGADA DOS PORTUGUESES
Quando Vasco da Gama atingiu Cochim, em 1498, o comércio do Oceano Índico estava perfeitamente organizado de tal modo que os europeus que lá se sucederam até 1715, limitavam-se a substituir os comerciantes do século XV, tomando em seguida uns o lugar dos outros, sem a introdução de modificações sensíveis no mecanismo já existente.
O comércio marítimo estava em mãos dos muçulmanos, árabes e persas, que possuíam e dirigiam a maioria dos barcos e praticavam boa parte do comércio terrestre.
O tráfico fazia-se mediante duas escalas, a costa indiana de Malabar, onde Calecute era o principal porto no principado independente de Samorim e Malaca.
A cidade e o sultanado de Malaca ( terceiro estado menor da Malásia) eram uma criação dos muçulmanos, representando o papel de entreposto de todo o comércio entre o Oceano Índico e os mares da China.
Para se instalarem num porto, os mercadores deviam entender-se com as autoridades locais. Obtinham do governo permissão para criar um estabelecimento em torno do qual se agrupavam e viviam segundo seus costumes e leis, cada nação sob um chefe de sua nacionalidade.
Atribuindo-se a este estabelecimento o gozo de um privilégio de extra-territorialidade teremos o que se denomina uma feitoria.
Mas, como este privilégio é revogável, se o soberano do país rompe o acordo, os mercadores devem encontrar meios de retirar a feitoria para um ponto de apoio e de usar a sua superioridade naval sobre domínios continentais, a fim de bloquear os portos do soberano hostil, de apressar os navios que neles pretendam entrar e de obrigar o monarca a capitular estancando suas alfândegas e privando-o de armas e objetos de luxo.
Os mercadores, assim são levados a passar da feitoria para o forte. É preciso garantir a segurança do forte.
Destarte os comerciantes são coagidos a estender sua dominação sobre o território que circunda a fortificação, a reclamar a autoridade sobre os habitantes, a pretender o exercício do poder legislativo e do direito de lançar impostos.
N Índia e na península da Malaca, os mercadores muçulmanos haviam permanecido no estágio da feitoria, pois sua solidariedade permitia-lhes arruinar os portos do soberano recalcitrante mesmo sem o emprego das armas.
(O SÉCULOS XVI e XVII - A Europa e o Mundo- Roland Mousnier)
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